Baixa Verde ainda resiste no Brejo com os portentosos gradis e pátio.
16 de August de 2009
Engenho situado no município de Serraria foi construído no século XIX e proporciona um verdadeiro passeio aos visitantes ao período açucareiro.
Exibindo uma arquitetura imponente e conservando todo o seu aspecto original, o Engenho Baixa Verde, situado no município de Serraria e construído no final do século XIX, é um verdadeiro convite ao visitante para uma viagem ao período açucareiro. Ele ainda conserva a sua capela, casa curada, senzala, antigo barracão e o maquinário, que envolve a moenda e as pás de mexer a garapa fervente nos tachos.
O Engenho Baixa Verde exibe uma casa-grande com portentosos gradis os quais no passado guardavam um pátio que servia para a secagem do café produzido na propriedade. Vale lembrar que a região do Brejo paraibano, outrora, já foi uma grande produtora de café.
O Engenho Baixa Verde está situado no sopé da serra que dá acesso à cidade de Serraria. Além de seus atrativos, o visitante vai encontrar em suas cercanias reservas de mata atlântica com árvores centenárias, clareiras e pedras gigantes.
A antiga agroindústria é propriedade privada da família Spínola, mas os visitantes são bem vindos, mas desde que façam a comunicação de forma antecipada aos proprietários.
Integra o cenário do Engenho Baixa Verde a deslumbrante paisagem serrana e um clima agradável, que adornam o visual de velhos engenhos. Próximo à propriedade se encontra a Mata do Grilo, que tem como diferencial a curiosa Pedra da Furna, usada pelos índios antigos como abrigo.
A propriedade, que está inserida em região de preservação ecológica, mostra uma atração especial, a Pedra da Furna, antiga residência de índios. Para visitá-la o turista deve ter espírito aventureiro pois as trilhas são precárias e faz-se necessária o acompanhamento de guias experientes.
No ambiente do Engenho Baixa Verde foram realizadas as filmagens "de época" para um documentário sobre o histórico passado de Serraria, cidade famosa pela sua paisagem serrana e seu clima agradável. Antigamente, a região mostrava muitas florestas de palmeiras.
Os vales verdejantes que ainda perduram na região do Brejo paraibano, na verdade, integram a paisagem dos velhos engenhos os quais favoreceram para um tipo de aristocracia rural, de nomes ilustres, como os Duarte e os Santos Lima na região dos municípios de Serraria e Borborema.
Civilização deixou raízes no Nordeste
O conjunto de características sociais e culturais da civilização dos engenhos deixou raízes profundas no Nordeste brasileiro. Essas marcas ainda sobrevivem na memória da região de forma concreta. Basta observar as centenas de casas-grandes ostentando um rico e belo estilo arquitetônico. São construções seculares e, em sua maioria, se encontram abandonadas, mas representam de forma legítima de uma atividade que simbolizava a riqueza da região nordestina em determinada época do Brasil.
Vale lembrar que os engenhos erguidos no interior no Nordeste brasileiro surgiram bem depois das pequenas agroindústrias localizadas na faixa litorânea. Os registros indicam a existência de engenhos na região do Brejo paraibano desde a segunda metade do século XVIII. Basta observar a referência feita por Horácio de Almeida em sua obra: Brejo de Areia de 1958, ao Governador da Capitania da Paraíba, Francisco de Miranda Henriques: "Homem probo e moderado, governou a Capitania da Paraíba de 1761 a 1764. Terminado o governo fixou-se em Areia, no engenho Bolandeira, onde veio a falecer em avançada idade".
Conforme indica a informação de Horácio de Almeida, chega-se à conclusão que os primeiros engenhos do município de Areia surgiram há cerca de 240 anos. O registro de Horácio de Almeida é o mais fiel, até agora, que existe em termos do surgimento dos engenhos na região do Brejo paraibano. E até hoje o mais citado por historiadores. Porém, adotando como base menções feitas pelos habitantes da cidade de Areia, não se descarta a possibilidade da existência de engenhos antes dessa época.
Os engenhos construídos na região do Brejo, a partir do século XVIII, seguiram os modelos das agroindústrias situadas no Litoral nordestino, apesar de que eles não gozavam da mesma opulência e posição privilegiada destes últimos, que foram o símbolo da aristocracia rural brasileira desde o período colonial. O fato é que o surgimento dos engenhos no Brejo fez nascer uma pequena burguesia rural em torno desta atividade produtiva do setor canavieiro.
É bastante informar que os engenhos do Brejo não acompanharam a suntuosidade das edificações das pequenas agroindústrias da região do Litoral, porém, alguns deles chegaram a alcançar um certo grau de importância econômica em relação a estes últimos, nas épocas áureas do açúcar, a exemplo dos engenhos Vaca Brava em Areia, Goiamunduba em Bananeiras e Olho D'Água de Bujari em Alagoa Nova.
Os engenhos da região do Brejo paraibano, em sua maioria, possuíam menos porte do que os do Litoral, no entanto, as casas-grandes dos mais antigos que restaram nesta microrregião também podem ser considerados espécimes da arquitetura dos antigos engenhos de açúcar do Brasil.
Pesquisador catalogou 294 agroindústrias na região do Brejo no ano de 1994
O Brejo paraibano acolhia cerca de 294 engenhos catalogados pelo pesquisador Antonio Augusto de Almeida no ano de 1994. Passados cerca de 240 anos, atualmente existem, segundo dados do IBGE de 2000, 52 engenhos ativos. Apesar do número reduzido de agroindústrias, eles ainda permanecem em número relativamente significativo, a exemplo dos municípios de Areia, Alagoa Grande, Alagoa Nova, Bananeiras, Borborema, Pilões e Serraria.
Destes 52 engenhos, 25 produzem apenas aguardente; 8 produzem apenas rapadura e 19 fabricam aguardente e rapadura conjuntamente. Alguns ainda estão moendo a cana-de-açúcar, porém, a sua maioria está desativada.
Os engenhos jamais poderiam desaparecer do Brejo paraibano, uma vez que está marcada pela tradição do cultivo e processamento da cana-de-açúcar. A manutenção de hábitos, costumes e tradições seculares, no caso e questão, em termos de produção, não sucumbiu, mesmo que apontasse alternativa neste sentido. No caso do Brejo, essa tradição produtiva vem persistindo na região por quase dois séculos e meio.
SAIBA MAIS
Produção de açúcar
A produção do açúcar não era fácil no período açucareiro. Nessas agroindústrias canavieiras o produto era feito com uma grande quantidade de mão de obra que, em sua maioria, era formada por escravos. Os bois eram de suma importância para a fabricação dos derivados de cana-de-açúcar. Esses animais faziam girar a moenda que extraia a garapa da cana-de-açúcar. Eles, também, puxavam os carros com lenha para a casa das caldeiras. A cana-de-açúcar era cortada pelos escravos e colocavam-na nos carros dos bois que a levavam para a moenda. Cortar cana-de-açúcar é um trabalho árduo e essa tarefa perdura até os tempos atuais. O engenho, a grande propriedade produtora de açúcar, era constituído, basicamente, por dois grandes setores: o agrícola - formado pelos canaviais -, e o de beneficiamento - a casa-do engenho, onde a cana-de-açúcar era transformada em açúcar e aguardente.